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Bia Bender: Entre Bordas e Bordados - Desmanchando Limites


O Museu de Arte Brasileira da FAAP e o Coletivo Eco apresentam a exposição “Entre Bordas e Bordados – Desmanchando Limites” da artista visual Bia Bender. A mostra, a maior já realizada com sua produção têxtil, traz cerca de 50 obras inéditas, criadas entre 2006 até os dias atuais. Por meio da delicadeza do gesto e de seu olhar crítico, Bia propõe através desses trabalhos reflexões acerca das fronteiras que delimitam a arte, a artesania e a moda, bem como dos limites capazes de cercear a potencialidade da obra de arte têxtil.

Inúmeras referências transpassam o fazer da artista: o conhecimento adquirido, ainda na infância, no terraço da fazenda onde as mulheres de sua grande família passavam as tardes bordando, tecendo e tricotando; sua formação em Artes Plásticas pela FAAP; o valor da preservação do saber acumulado através de gerações, apreendido em meio às experiências vividas em Santiago, onde estudou Arte Têxtil na Universidade do Chile; a importância dada ao têxtil e à vestimenta, presenciada em contato com os “pueblos” da Guatemala que, ao produzirem suas próprias peças, conferiam-lhes um valor simbólico e cultural; e, por fim, a versatilidade adquirida em sua experiência na área da moda.

Manuseando cuidadosamente esse grande tear, Bia tece uma rede cujas conexões entre arte, artesania e moda desmancham as fronteiras que as delimitam: o têxtil é visto como meio de expressão artística, os códigos produzidos pela moda passam a ser lidos através das lentes das artes visuais e a tradição é adaptada à contemporaneidade. Em meio ao experimentalismo, bordados unem-se a novos materiais e aos retalhos inutilizados que Bia passou a recolher – o desperdício e o grande volume de descarte, tão comuns na área da moda, sempre chamaram a atenção da artista. Assim, entrelaçando fragmentos materiais, culturais e conceituais, Bia nos apresenta uma nova linguagem.

Mas assim como outras produções que utilizam o tecido como suporte artístico e desassociam o caráter utilitário habitualmente atrelado ao trabalho manual, a obra de Bia frequentemente se depara com os limites que, ao distinguirem a arte da artesania, impõem a esta uma condição marginal do ponto de vista artístico. Contudo, acreditando que o fazer e a ideia estão para além de questões de suporte, Bia, com suas linhas, tecidos, retalhos, contas de vidro, caicós, bilros, renascenças, filés e macramês, não apenas turva as fronteiras entre categorias artísticas, como também evidencia a riqueza e a complexidade inerentes ao trabalho artesanal, frequentemente cerceadas por hierarquias e preconceitos que ainda hoje circundam a arte.

Guiada por sua alma barroca e entregue à liberdade de desconstruir, construir, desmanchar e ressignificar, Bia Bender extrapola definições e categorizações artísticas, e nos apresenta obras que são um verdadeiro convite para que nossos sentidos, percepções e valores se ampliem e se transformem ao flanarem pelos limites que se desmancham entre bordas e bordados.

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